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O que já aprendemos com a crise do corona?

Atualizado: 11 de mai. de 2020

Lives no facebook, saraus em rádio comunitária e onda de generosidade marcam o primeiro mês de quarentena


Por Giselle Paulino, com contribuições de diversos mestres das kebradas.


Ágatha Liz, diva da música do Instituto Favela da Paz, no Jardim Nakamura, traz músicas de sua autoria durante live para comunidades em quarentena. Ao fundo, os irmãos Fabio e Claudinho Miranda, fundadores da banda Poesia Samba Soul.

Na Favela, a preocupação com a vulnerabilidade social dos moradores chegou antes que o vírus. O Instituto Nua, União de Vila Nova, extremo leste de São Paulo, por exemplo, atende diariamente cerca de 160 jovens no contraturno escolar, que fazem suas refeições diárias no NUA. Instituto Favela da Paz, no Jardim Nakamura, extremo sul da cidade, recebe dezenas de jovens e crianças diariamente para atividades culturais e educacionais. Com a necessidade de fechar as portas devido ao isolamento social, veio a primeira preocupação: como essas crianças seriam alimentadas?

Mas o buraco era mais embaixo. A impossibilidade de sair para trabalhar, e portanto de ganhar o dinheiro do mês, significava que a grande maioria das famílias das favelas estariam em situação de vulnerabilidade. No Brasil, 13,6 milhões de pessoas moram em favelas, dos quais, pelo menos 86% terão dificuldades para comprar itens básicos durante esse período de crise deflagrado pelo coronavírus.

A crise do alimento não chega sozinha. A quarentena traz ainda a necessidade de acompanhar de forma remota as situações de violência doméstica que tendem a aumentar numa situação como essa. O isolamento dos mais velhos é outra preocupação. Como isolar os idosos em casas de um único cômodo e famílias que as vezes chegam a 10 pessoas? A situação oposta também é preocupante, como cuidar dos idosos que moram sozinhos? Como fazer a comunidade entender a necessidade do isolamento social? Como segurar em casa famílias que não têm o que comer ? Como continuar os atendimentos de forma remota?


Neste primeiro mês, graças ao apoio da rede, o NUA pode levar 300 cestas básicas a famílias de Nova União e também do Morumbizinho, comunidade que vive em situação de saúde bem precária, sem saneamento básico e água encanada. O Instituto Favela da Paz distribuiu 500 Favela Card (Cesta básica digital) no Jardim Nakamura e pode apoiar outros líderes da região. O movimento Sabor de Solidariedade, que têm feito compras dos agricultores que não puderam vender seus produtos, nos entregaram 50 cestas de legumes; fomos atendidos pelo Banco de Alimentos e na Páscoa, nossas crianças ganharam ovos de chocolate da Cacau Show e panetones.


Apesar do isolamento social, estamos conectados com a comunidade. Fizemos uma compilação dos acertos, ideias e cuidados dessa primeira fase da quarentena para dividir com todos que nos acompanham e que nos apoiaram de diversas formas. Essas ações podem servir também de dicas para que outros coletivos possam se organizar.

1. Acesse a rede de amigos e apoiadores mais próximos


Criar um flyer com as principais necessidade como alimentos e produtos de higiene e ter uma conta corrente da instituição para apoio financeiro fez com que os recursos chegassem mais rápido para as primeiras emergências. Acionamos nossas redes para apoio ao Instituto Nua, Favela da Paz e Mulheres do Gau. O Nua lançou a Jornada Solidária comunicando a situação, a necessidade do isolamento e engajando os parceiros para os próximos passos.

2. Mobilize as lideranças, voluntários e comércio local


Um passo importante foi mobilizar o comércio do bairro, motoboys e pessoas para ajudar na campanha. Alguns itens como gás de cozinha, por exemplo, chegaram a custar R$150. Tem uma rede solidária evita esses abusos e movimenta a economia local.


3. Esteja conectado com a comunidade

A Rádio e Tv Nuar também está a todo vapor com boletins e informativos sobre a crise, as campanhas do bairro, mas também com programação cultural, músicas e sarau para manter o astral de seus ouvintes. É bem divertido. Para escutar: @radioetvnuar


O Favela da Paz tem feito lives de shows e bate papo com a comunidade para falar do momento atual e também passar mensagens de conscientização sobre a vida, valores, visão de mundo e manter o astral da galera. É muito inspirador. Vale à pena acompanhar nas redes do Instituto Favela da Paz. https://www.facebook.com/Claudinholotado


4. Tenha o mapeamento das famílias


Saber o perfil das famílias do bairro, onde elas estão localizadas e os grupos mais vulneráveis, como os idosos, é muito importante. A UBS de Vila Nova União foi fundamental para esse mapeamento, pois mostrou que mais de 100 velhinhos estariam em situação muito precária. No Jardim Nakamura, o Favela da Paz se apoiou nos dados oferecidos pelo posto de saúde local para localizar as famílias que mais precisavam de apoio e coletar informações sobre as características de cada uma. Ter esse cadastramento facilita a entrada em editais e é essencial para acompanhar a evolução da comunidade.

5. Aumente sua rede de mobilização


Muitos movimentos em prol das favelas se formaram em torno da crise. Fazer parte desses grupos é essencial para saber quem está apoiando o quê, quais editais existem para cada situação e para trocar experiências. Nos conectamos com muitos deles. Desde já nossa eterna gratidão. Alguns deles:

Grupo de whatsaap União SãoPaulo https://www.uniaosp.org/ com núcleos em diversos locais do país;

Campanha para compra de pequenos agricultores e entrega nas comunidades

Site do Gife com principais iniciativas: https://emergenciacovid19.gife.org.br/#

No programa Familia Apoia Familia: Benfeitoria programa

Criamos uma campanha para NUA https://benfeitoria.com/novauniao

6. Faça a distribuição dos donativos de forma consciente

Conte com uma equipe de voluntários para entrega das cestas e donativos e certifique-se de que as medidas de segurança estão sendo aplicadas corretamente para evitar a transmissão do vírus. Evite os tumultos.

7. Use alternativas – o Favela Card


Pensando em evitar o tumulto causado pela entrega de cestas básicas, o Instituto Favela da Paz criou a campanha Favela Card. Em parceria com a empresa Vegas Card, mo lugar da cesta, entrega um cartão vale-refeição para as famílias mais vulneráveis para que possam fazer compras dos itens da cesta diretamente no comércio local. A entrega do cartão é feita por motoboys que são instruídos a usar máscara e álcool gel e que também ganham um Favela Card.

8. Distribua generosidade

Este é o momento de garantir que todos e todas estejam seguros, com saúde e alimentos. Por conta das redes e localização, algumas comunidades têm mais facilidade em se mobilizar e arrecadar fundos do que outras. Alguns investidores também escolhem fazer doações para organizações que consideram ter uma boa gestão, o que está tudo bem. No entanto, muitos líderes comunitários com forte atuação comunitária, mas que não se encaixam no perfil esperado, ficam de fora.

9. Crie relacionamentos.

Não basta entregar a cesta, é preciso acompanhar o que acontece nos domicílios. Manter o relacionamento e monitoramento contribui pra diminuir a violência doméstica, para a pessoa não sentir-se só e saber que está sendo cuidada e acolhida.

10. Replique o modelo


É preciso pensar em muitos detalhes. Além dos itens básicos das cestas, é preciso lembrar que algumas comunidades estão com dificuldade de água, muitas famílias precisam de fraldas descartáveis, e as vezes é preciso até colocar crédito no celular das pessoas para evitar o isolamento total. Sabemos que é preciso ficar de olho na violência doméstica que tende a aumentar em tempos de isolamento social e estamos nos organizando para lidar com essa questão. Queremos trocar experiências sobre as iniciativas que estão dando certo e levar apoio para outras comunidades que precisam. Mas esse é uma papo para o próximo post.



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