Quando o silêncio é o professor

Para escola em Delhi, autoconhecimento deve ser o maior objetivo da educação

ESPECIAL MESTRES DAS KEBRADAS NA INDIA

:: Por Giselle Paulino, de Delhi; Fotos de Haroldo Castro

Da esquerda para a direita, Kuldeep Singh, diretor do Colégio Sarvodaya Vidyalaya e Manish Jain, cofundador da Swaraj University e Shikshantar, em Udaipur.

“O silêncio é a parte mais importante do processo de aprendizado.” Com esta frase, Kuldeep Singh, diretor do Colégio Sarvodaya Vidyalaya, norte de Delhi, abre a conversa com o grupo de líderes comunitários do Brasil que visita a Índia para troca de experiência em Universidade Livre. É por meio da meditação, segundo ele, que o jovem entra em contato com seu interior, se conhece melhor e descobre o propósito de sua existência.

É no Colégio Sarvodaya que foi criado em 2014 o Creativity Adda, um espaço para desescolarização dentro do próprio período escolar. A iniciativa veio como uma tentativa de lidar com a evasão escolar de alunos que não se encaixam ou não se interessam pelo sistema tradicional de educação.

“A maioria das confusões que vemos no mundo hoje são causadas pela falta de autoconhecimento”, diz ele. No Creativity Adda os jovens têm a oportunidade de olharem para si e fazerem suas escolhas de forma muito criativa” (Kuldeep Singh)

A palavra Adda em hindi significa espaço para se encontrar, trocar e deixar emergir novas ideias. O experimento se mostrou eficaz também na redução da violência entre os alunos. O que inicialmente funcionava apenas no contrafluxo escolar hoje acontece durante o mesmo período das aulas e todos os alunos podem participar das atividades do Adda.

Andar de patins, cozinhar, produzir vídeos ou dançar são algumas das muitas possibilidades que os jovens encontram aqui. Um aspecto considerado importante é engajar os jovens em projetos reais realizados por grupos e organizações fora da escola.

Jovens do Creativity Adda gastam energia e desenvolvem diferentes manobras de patins durante as tardes.

Jovens interessados em gastronomia convivem com chefs e entendem a vida real de um restaurante. Na foto, Eda Luiz, experimenta delícias preparadas pelos cozinheiros mirins.

“Trabalhar com excluídos e com alunos ditos problemáticos é um desafio. Não podemos repetir o que não deu certo. As pessoas insistem em querer resultados diferentes a partir de coisas que ja foram feitas.” (Eda Luiz)

“Me sinto com muita energia para voltar e continuar a expandir essa metodologia e essa maneira de olhar para esses meninos que tem talentos maravilhosos e que são discriminados e contidos por um sistema escolar”, diz Eda.

Outro local de muita inspiração é o “Reparing Cafe” ou Café Concerto. Com fiação por todos os lados, carrinho correndo pelo chão e lâmpadas que acendem e apagam de repente, este cantinho é dedicado a experimentos, traquinagens e gambiarras de futuros “professores pardais” que já sabem concertar rádios, aparelhos domésticos e muito mais.

"A mentalidade de quem conduz aquela escola é o que faz a diferença", diz Hermes de Sousa, Instituto NUA. "Precisamos levar este diretor para falar nas escolas no Brasil. O Nua tem um trabalho parecido, mas as escolas públicas estão longe disso."

Hermes de Sousa, do Instituto Nua, ao lado de uma pintura do pequeno buda embaixo da árvore, se inspira com conversa com diretores sobre silêncio e meditação.

Veja o vídeo: No lugar de uma sala de aula fechada, alegria e autoestima durante a aula de dança naa Creativity Adda.

*A jornada Mestres das Kebradas na Índia é uma iniciativa da UniDiversidade das Kebradas e foi viabilizada graças a um financiamento coletivo com 120 colaboradores que captou cerca de 75 mil reais por parte de mais de 100 doadores. A logística da viagem foi executada de forma pro-bono pela Viajologia Expedições, operadora especializada em viagens de conhecimento e em rotas fora do usual. O projeto foi uma parceria com a Articulação Sul, organização que trabalha para promover iniciativas de cooperação Sul-Sul que visem a construção de sociedades mais justas, igualitárias e sustentáveis